sábado, 30 de abril de 2011

1º de Maio – Dia Mundial do Trabalho


“A história do Primeiro de Maio mostra, portanto, que se trata de um dia de luto e de luta, mas não só pela redução da jornada de trabalho, mais também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade.” – Perseu Abramo


    O Dia Mundial do Trabalho foi criado em 1889, por um Congresso Socialista realizado em Paris. A data foi escolhida em homenagem à greve geral, que aconteceu em 1º de maio de 1886, em Chicago, o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época.

    Milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. Naquele dia, manifestações, passeatas, piquetes e discursos movimentaram a cidade. Mas a repressão ao movimento foi dura: houve prisões, feridos e até mesmo mortos nos confrontos entre os operários e a polícia.

    Em memória dos mártires de Chicago, das reivindicações operárias que nesta cidade se desenvolveram em 1886 e por tudo o que esse dia significou na luta dos trabalhadores pelos seus direitos, servindo de exemplo para o mundo todo, o dia 1º de maio foi instituído como o Dia Mundial do Trabalho.

Fonte: IBGE / Ministério do Trabalho

Paraíba ainda tem 282 focos de trabalho infantil

Apesar dos números, o trabalho infantil vem diminuindo nos últimos anos.
A Paraíba possui 282 focos de trabalho infantil e Campina Grande, no Agreste, é a cidade com o maior índice. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre 2006 e 2011, foram encontrados 32 focos do trabalho irregular no município. Outras cidades que se destacam pelos números são Patos (29) e Guarabira (16). Na capital, foram oito registros. Segundo a procuradora Maria Lins, da Comissão de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente, da Procuradoria Regional do Trabalho, apesar dos números, o trabalho infantil vem diminuindo nos últimos anos. Segundo Lins, a redução é motivada por ações do governo federal, a exemplo de ações como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e de campanhas educativas que combatem esse tipo de atividade.

Fonte: anjoseguerreiros.blogspot.com
Jornal da Paraíba (PB)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O tratamento dispensado à criança ao longo da história


A humanidade tem dispensado à criança um tratamento legislativo que se coaduna com a compreensão do significado da infância presente em cada momento histórico. Já em seus primórdios, os homens praticavam várias formas de violência à criança, “desde os egípcios e mesopotâneos, passando pelos romanos e gregos, até os povos medievais e europeus, não se considerava a infância como merecedora de proteção especial”, muitas vezes contando com o beneplácito da própria legislação e da cultura dominante.

 Ao tempo do Código de Hamurábi (1700 a.C-1600 a.C), no Oriente Médio, ao filho que batesse no pai havia a previsão de cortar a mão, uma vez que a mão era considerada o objeto do mal. Também o filho adotivo que ousasse dizer ao pai ou à mãe adotivos que eles não eram seus pais, cortava-se a língua; ao filho adotivo que aspirasse voltar à casa paterna, afastando-se dos pais adotivos, extraíam-se os olhos. Em Roma (449 a. C), a Lei das XII Tábuas permitia ao pai matar o filho que nascesse disforme mediante o julgamento de cinco vizinhos (Tábua Quarta, nº 1), sendo que o pai tinha sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o direito de vida e de morte e o poder de vendê-los (Tábua Quarta, nº 2). Na Grécia antiga, as crianças que nascessem com deficiência eram eliminadas nos Rochedos de Taigeto. Em Roma e na Grécia a mulher  e os filhos não possuíam qualquer direito. O pai, o Chefe de Família, podia castigá-los, condená-los à prisão e até excluí-los da família.

É no final do século XVIII que a infância começa a ser vista como uma fase distinta da vida adulta. Até então, participavam das mesmas atividades. As escolas eram freqüentadas por crianças, adolescentes e adultos. Com o surgimento do entendimento de que a infância era uma fase distinta da vida adulta também passam a ser utilizados os castigos, a punição física, os espancamentos através de chicotes, paus e ferros como instrumentos necessários à educação. Na Inglaterra, em 1780, as crianças podiam ser condenadas à pena de enforcamento por mais de duzentos tipos penais.

Somente em 1871, é fundada em Nova York a Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças, a partir do caso da menina Mary Ellen. Mary Ellen era uma menina órfã de mãe, abandonada pelo pai, que sofreu severos maus-tratos na família substituta. O fato causou profunda indignação na comunidade da época que percebeu não haver um local própria destinado a receber este tipo de denúncia. Em razão disto, o caso da menina Mary Ellen foi denunciado na Sociedade para a prevenção da Crueldade contra os Animais. Necessitou ser equiparada ao animal para que seu caso pudesse ser examinado pelo Tribunal da época. Pouco tempo depois, na Inglaterra, é fundada uma sociedade semelhante, voltada a proteção da criança.

No Brasil, a situação da criança não foi diferente. Contam os historiadores que as primeiras embarcações que Portugal lançou ao mar, mesmo antes do descobrimento, foram povoados com as crianças órfãs do rei. Nas embarcações vinham apenas homens e as crianças recebiam a incumbência de prestar serviços na viagem, que era longa e trabalhosa, além de se submeter aos abusos sexuais praticados pelos marujos rudes e violentos. Em caso de tempestade, era a primeira carga a ser lançada ao mar. Até o advento da Constituição Federal de 1988, a criança não era considerada sujeito de direitos, pessoa em peculiar fase de desenvolvimento e tampouco prioridade absoluta. A partir de 1988, no Brasil, passamos a contar com uma legislação moderna, em consonância com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, inaugurando uma nova época na defesa dos direitos daqueles que ainda não atingiram os dezoito anos de idade.


 A chegada da criança ao sistema de Justiça: de onde provêm os encaminhamentos?

Os casos de violência sexual intrafamiliar praticados contra a criança chegam ao Sistema de Justiça através do Conselho Tutelar ou nos disputas familiares envolvendo guarda, visitas ou processos de suspensão e destituição do poder familiar.

Dentro do contexto sócio-jurídico-cultural construído pela humanidade, ao longo dos tempos, torna-se indiscutível que a nova postura do ordenamento jurídico brasileiro, alicerçada em documentos internacionais, em especial a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, e assinada pelo Governo brasileiro, em 26 de janeiro de 1990, promulgado pelo Decreto Presidencial 99.710, de 21 de novembro de 1990, passou a constituir-se em um instrumento incentivador e facilitador do enfrentamento da violação dos direitos à criança, em especial, à violência intrafamiliar.

Cabe ao Conselho Tutelar receber, entre outras situações de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente, os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos praticados contra a referida população, mostrando-se de extrema urgência a sua criação e instalação, em todos os municípios, “para a efetivação da política de atendimento à criança e ao adolescente, tendo em vista assegurar-lhes os direitos básicos, em prol da formação de sua cidadania”.

Maria Regina Fay de Azambuja
Parte do artigo>VIOLÊNCIA SEXUAL INTRAFAMILIAR: É POSSÍVEL PROTEGER A CRIANÇA?
Fonte: BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Drogas: crack: estudo psicológico e social

  
Este estudo é um guia para a extrema aflição de pais ou responsáveis e amigos de pessoas que viveram ou vivem esta verdadeira tragédia moderna e nada silenciosa diria. Não irei abordar nenhum aspecto médico dos efeitos do consumo da droga, pois não seria minha área, me atendo exclusivamente aos fenômenos psicológicos. Para não perder tempo à essência de dita droga é a aceleração em todos os sentidos, uma espécie de “banda larga” de todas as drogas; o que o álcool ou outros entorpecentes levariam anos para consumir o indivíduo, esta o faz em pouquíssimo tempo.

O próprio modo de uso da droga denota seu simbolismo: lata de alumínio, cinza de cigarro, tudo que podemos não apenas considerar lixo, mas ao mesmo tempo diz da frieza e falta absoluta de preocupação com qualquer aspecto da saúde, aliás o que dirá dos efeitos da exposição do alumínio no organismo. O suposto atrativo desta droga é o baixo custo da mesma (cerca de 5 reais a pedra), porém, ledo engano, já que é a droga que mais leva a perdas financeiras por incrível que pareça, pois a pessoa a fuma durante dois, três dias quase que ininterruptamente, pois o efeito dura cerca de dez minutos, então no final das contas é uma falsa imagem de droga barata, pois seu consumo é desenfreado.

Na verdade o crack é a loucura potencializada do próprio sistema de consumo que talvez inveje o mesmo, um produto para ser consumido diariamente, apelando de todas as formas possíveis para obtê-lo.

O perfil do usuário da droga passa essencialmente pela solidão, já que boa parte dos usuários gosta de consumir a droga sozinhos, em hotéis ou motéis, a não ser que não tenham recursos para o mesmo, consomem em grupo. A quase ausência de cheiro da droga (levemente borracha queimada), facilita seu uso em quase qualquer local, este é um dos fatores que também ajudou a disseminar tal entorpecente. Inicialmente a droga como disse era consumida quase que por indigentes digamos, (nos estados unidos é conhecida como a cocaína dos mendigos), para após se disseminar em todas as classes sociais; o fato é que guardando as devidas proporções, é uma droga que leva o individuo `a total mendicância, mantendo parece seu rótulo de origem.

Diz-se que vários outros tipos de drogas induzem ao uso do crack, tipo maconha e álcool. A afirmação é absolutamente verdadeira, pois se ativa uma euforia que é a base para  o início do consumo do crack, adiante irei discorrer sobre esse ponto. O fato é que repetindo o que disse tudo leva a aceleração em nossa sociedade, seja o crack que irá matar mais rápido, anabolizantes, sites de namoro que aceleram os relacionamentos, cortando fases cruciais dos mesmos, cirurgias de estômago para apressar regimes, então se criou também uma droga acelerada em todos os aspectos (dependência e efeitos colaterais).

Alguns pais cujos filhos são dependentes de crack me disseram incrivelmente que um dia gostariam de experimentá-lo a fim de entender tanto amor e dedicação perante a droga. Isto é mais uma prova do devastador poder desta droga, pois ao contrário de outras arrasta quase que todos para seu redemoinho malévolo. O crack é o resto de cocaína misturada com bicarbonato de sódio, amônia e água destilada que resulta nas pedras que são fumadas no cachimbo ou lata; nesta última se amassa a mesma, se coloca cinza de cigarro junto com a pedra, se fazendo orifícios na lata, se acende e a pedra vai se consumindo e o usuário traga a fumaça pelo bocal.

É cerca de 6 a 10 vezes mais forte que a cocaína, fazendo o efeito para o cérebro em apenas 15 segundos após a inalação; causa aumento de pressão, suor intenso, aceleração dos batimentos cardíacos, insônia e desnutrição quase que completa. Já é a droga mais consumida na classe média alta, em função de vários fatores (acessibilidade, quase ausência de cheiro e o baixo preço, pois a lei da economia também impera nesse setor, embora como disse seja um falseamento a droga custar pouco).

Os usuários relatam em boa parte dos casos sentirem idéias ou delírios paranóicos que vão ser flagrados consumindo o crack, ou puras idéias de perseguição ou que serão assassinados; tais fenômenos também ocorrem com outras drogas, mas parece que a paranóia é o ponto crucial desta. Outro fator preponderante é que o consumo quase sempre foi motivado anteriormente por um suposto estado de euforia, como se a sensação de felicidade empurrasse o usuário para o consumo do entorpecente.

 A verdade é que a droga é a tentativa mais tresloucada de perpetuar algo impossível, um eterno estágio de satisfação ou êxtase. Taxativamente digo que o usuário desta e de outras drogas sofre de transtorno bipolar ou a antiga síndrome da dupla personalidade. Por um lado todos notam que são pessoas extremamente amáveis, sedutoras, agradáveis, sendo que todos desejam sua convivência ou companhia. São doadoras por natureza, cordiais, ajudam os mais necessitados e solícitos no infortúnio alheio.

Mas a droga rapidamente revela sua outra faceta de crueldade, egoísmo e pouca relevância com o sofrimento dos familiares e amigos. O estado de drogadicção faz com que toda a agressividade latente venha à tona; usando a própria simbologia do crack, é como uma lata que colocássemos dentro do mar para retirar a areia do fundo, no caso todos os instintos caóticos e destrutivos que um ser humano pode vivenciar.

A questão social e psicológica pouco debatida em relação aos entorpecentes, não é necessariamente uma droga em questão, mas que a coisa se assemelha ao desenfreado consumo tecnológico, ou seja, qual será a grande novidade de um televisor ou aparelho eletrônico, e paralelamente o que virá após cocaína, crack ou outros entorpecentes? O mecanismo é o mesmo e todos tem de estar atentos para tal fenômeno. Que qualquer droga é nociva já é mais do que um apanágio na literatura médica, a grande questão é o porque sempre determinado problema se reveste de uma capa ou roupa nova; imitação do modelo de consumo é claro.

Qualquer tentativa de tratamento passa inicialmente pela compreensão mais do que profunda que se criou com a droga um deus corruptor, que lhe fornece um prazer onde o preço é inquestionável: a total escravidão psíquica e física da pessoa. Um outro problema muito sério na questão da droga é o conceito da chamada co-dependência. Esta é via régia consciente e inconsciente que mais alimenta pelo lado psíquico a permanência da drogadicção.

São os familiares ao redor do drogado que sob a justificativa de estarem imersos no problema, acabam tirando uma vantagem absolutamente neurótica da situação. Necessitam do cuidar do outro como um farol para sua vida que até então estava pacata ou sem sentido. Há uma espécie de pacto com o sofrimento, pois o mesmo desvia todo o foco da atenção de problemas pessoais e existenciais não resolvidos. Quantos pais na vivência clínica que observei atuavam tal fenômeno, principalmente ao vê-los dando dinheiro ao filho mesmo sabendo que o mesmo iria consumir drogas, com a desculpa de evitar que caísse na marginalidade, ou ainda quantos tratamentos não observei serem interrompidos quando se diagnosticou que algum familiar também deveria se submeter a uma psicoterapia.

A co-dependência apesar de todo o infortúnio dá vida e preenchimento para aquela pessoa que se encontrava ociosa do ponto de vista psicológico, é também uma posse e apego sobre o outro, sendo a certeza de que apesar de tudo o que está vivenciando poderia talvez adiar o confronto com sua solidão pessoal ou carência, por isso a entrega plena para o problema do filho ou parente.

Outra essência psicológica da co-dependência fica bem evidente: necessidade de regressão a estágios primários ou infantis de cuidado ou amparo por parte do usuário, e reconquista de um poder absoluto sobre a pessoa por parte dos familiares. É um retorno à fase oral no drogadicto com aquele imenso prazer de sucção sentido quando era bebê, acompanhado de um familiar nas necessidades anteriores ou posteriores desse estágio.

É imensa a sedução de regredir a uma etapa onde necessitará de cuidado extremo, e do outro lado à sobrevivência do drogado dependerá quase que inteiramente dos responsáveis ou familiares, esse é o traçado exato da co-dependência, voltar ao vínculo de outrora, só que por um lado totalmente trágico ou neurotizado. Sem dúvida a conseqüência de todo esse processo é a doença que se instalará em todos que participam disso.

Mas afinal de contas quais os substratos inconscientes que reforçam a compulsão? Agressividade, solidão, narcisismo, carência, timidez. Fica difícil dizer qual deles é preponderante. Em quase todos os usuários a agressividade e revolta latente sempre foram à tônica de seu psiquismo. A solidão juntamente com a carência forma o repertório psicológico do sujeito; a timidez é sempre freqüente, odiando falar de si próprio, aliás esta última é um ícone da maioria dos usuários do crack ou outras drogas, pois o dito entusiasmo, euforia ou alegria que poderiam ser compartilhados com alguém, são totalmente “privatizados” numa esfera química, compulsiva, doentia e totalmente individualista.

O narcisismo também é um grande aliado do problema, sendo que a maioria dos usuários sofre desse distúrbio, seus familiares conhecem muito bem os sintomas: arrogância, prepotência, teimosia, falar demais e escutar pouco, provocações dentre outros. Afora esse histórico narcisista podemos inferir que se vangloriam por sensações únicas que a droga lhes proporciona, uma espécie de xamã às avessas em nosso cotidiano.

O crack sob a ótica psicológica é escolhido principalmente por aquelas pessoas que apresentam um caráter extremamente narcisista como disse, mas o leitor deve se perguntar porque uma droga tão “suja” possa ser referência para tal personalidade? Exatamente pela dialética da questão, alguém com extremo orgulho ou vaidade se lança no mais profundo abismo de perder tudo o mais rapidamente possível, o famoso processo da compensação ou contradição agindo sempre de forma inconsciente. Esse é exatamente o poço de todos que se aventuram em tal empreitada, achando que teriam o controle sobre algo tão macabro, é o erro mais mortal de todos e até ingenuidade, pois se nem com o álcool a pessoa consegue uma parceria equilibrada, o que dirá de algo que é o resto de uma química tão destrutiva. Voltamos ao narcisismo principalmente da juventude achando que poderia desafiar aquilo que não tem nenhuma competência para lidar, essa é outra questão psíquica da droga, se testar, desafiar e depois ficar totalmente preso na armadilha.

A conseqüência psicológica mais nefasta que observei nos usuários do crack é a amplificação ao extremo da ansiedade. Mesmo nas raras ocasiões onde se encontram sem o uso, seu comportamental delata a todo o instante dito fenômeno, não conseguindo a concentração e eficácia para qualquer tipo de projeto ou raciocínio, ou seja é uma droga que continua agindo quase que indefinidamente, não importando num dado momento se há ou não o consumo, mas sobretudo a persistência dos sintomas; é um processo um tanto diferente da crise de abstinência alcoólica, onde há a falta mas não existe tanto o efeito, no crack não dá para diferenciar o que é a dita crise e o efeito propriamente, e sempre o condutor disso tudo é a extrema ansiedade.

 O crack na própria definição de alguns usuários é a “raspa mais profunda de um lixo produzido pelo capeta”, o fato interessante também segundo os usuários é o clima não só de terror ou paranóia descritos anteriormente, mas a imensa carga negativa criada pela droga, já que diversas pessoas morreram brutalmente na cadeia de produção e venda da mesma. Este fato do clima circundante perante a droga é novo e deveria ser objeto de um estudo mais aprofundado.

O drogado sem nenhuma sombra de dúvida é uma pessoa sensível, sendo que a droga era sua esperança de tentar algo diferente, uma ruptura com o horror do tédio diário em nossa sociedade. Além do fracasso de tal meta, há ainda um elemento pior que o mesmo nunca se dá conta, de que sua doença conseguiu até atrair a solidariedade e compaixão de seu meio, o que seria precisamente a cura para qualquer tédio, mas infelizmente a nuvem de entorpecimento em sua percepção não lhe permite que visualize tal fato.

Um outro problema em relação aos familiares é o forte sentimento de inveja desenvolvido por alguns irmãos por terem a certeza de estar se privilegiando uma pessoa que a despeito de todo o sacrifício depositado, não consegue não apenas ser grata, mas que também não estabelece mais nenhum tipo de vínculo, excetuando com a droga. Não se pode falar de cura para o crack, justamente por ele ter sido eleito como algo divino na estrutura psíquica do usuário. Assim como jamais se pode destruir o conceito de deus, na droga se dá o mesmo justamente pela religiosidade que a mesma contém ao reverso. Não há qualquer prova científica do uso de drogas poder ser genético, o que há no início é um distúrbio psíquico que levou ao uso para depois se tornar um fator químico.

O tão alardeado conceito da curiosidade de experimentar uma droga é totalmente limitado do ponto de vista psicológico. Pois esta pessoa com a curiosidade geralmente é um adolescente carente, solitário ou com forte complexo de inferioridade, ou então alguém como disse extremamente narcisista onde sua ousadia faz a escolha pela “banda larga das drogas” já nas primeiras vezes. É preciso não se criar mitos, ninguém tem curiosidade de chegar perto de uma cobra extremamente venenosa, a não ser que queira um exibicionismo suicida.

Qualquer curiosidade quanto a algo que interfere na mente do sujeito denota de cara um problema mal resolvido do ponto de vista psíquico, e é importante todos saberem disso, pois do contrário estaríamos romantizando o uso da droga. Outro mito é que a droga é uma fuga dos problemas do cotidiano, ninguém poderá se furtar das adversidades da vida, e todos tem consciência disso. A droga é uma muleta para alguém que num determinado ponto assumiu ou sentiu-se derrotado, ou não soube elaborar sua revolta pessoal, ou ainda que teima em que seu meio fosse exatamente o modelo que tem em sua mente.

Quando ouvimos aquele famoso relato que necessitou da bebida ou qualquer outra coisa para aliviar um pouco a timidez, a esfera mental da pessoa já sabe que se encontra na perda ou com um sério problema que não consegue resolver, assim sendo a droga passa a ser a válvula de escape para o não confronto com o mais puro medo, pois insisto que a pessoa já sabe de antemão que não iria efetuar tal projeto sonhado, não é a fuga, mas dissimular seu complexo de inferioridade.

O problema da suposta cura das drogas, não passa apenas pela dificuldade de superação do pólo químico, mas poucos perceberam que a droga é um catalisador ao extremo do apego e medo da mudança, sendo o atestado máximo da descrença em algo diferente, um alinhamento da neurose obsessiva compulsiva com uma rotina de caos. Na seqüência elaborei alguns passos apenas do ponto de vista psicológico, uma espécie dos 12 passos do aa estritamente psíquico como disse, para que usuários e familiares reflitam talvez com um profissional toda a problemática.


1)   aceitar que sua busca inicial pelo crack ou qualquer outra droga foi motivada não apenas pela curiosidade ou embalo, mas nasceu do espírito competitivo do sujeito, além do forte desejo de infringir limites, revolta (contra a família ou o meio social), solidão, comparação, tristeza e inveja perante algo material ou pessoal. A droga sempre irá representar um conflito psicológico assumido ou não.

2)   a extrema necessidade de consumo cresceu em paralelo ao absoluto fracasso e indolência de sua vida pessoal, e a droga representa a potencialização de um comodismo na sua rotina de infelicidade e destrutividade.

3)   a falta de tentativa para uma recuperação está associada à sua profunda insensibilidade em relação às pessoas que realmente gostam e se importam com o indivíduo, e tal desleixo se torna um instrumento sádico contra si próprio e seu meio.

4)  a busca pela droga representa a timidez ou incapacidade de troca do sujeito, privatizando determinado prazer de forma alucinatória, se recusando a satisfação no plano real.

5)   o drogado nunca almejou depositar a confiança em alguém, por arrogância ou prepotência, tais fatores inibem verdadeiras ações de ajuda ou restauração.

6)  o drogado é um imenso narcisista, e tal característica sempre o levou a extrapolar qualquer senso de limite, isso se torna um aliado em sua extravagância que apenas trouxe dor e sofrimento para seus familiares e amigos.

7)   sua ambição desmedida contraditoriamente o leva a perder tudo, não apenas em função da droga, mas acaba forçando também que seu meio invista tudo apenas nele, não bastasse esse egoísmo não assimilado pelo sujeito, o mesmo nunca tem o valor real das coisas, a regra é apenas obtê-las, não importando se terão ou não uma duração. Notem que boa parte dos drogados tem como peculiaridade serem talentosos ou com espírito empreendedor, porém acabam sempre no fundo do poço por não refrearem seus instintos megalomaníacos.

8)   perceber que a ansiedade sempre foi à alavanca mestre para o início do comportamento de drogadicção, e o fracasso em controlar a mesma é nunca ter feito realmente um inventário psicológico sobre suas reais necessidades ou desejos, estes sempre foram difusos no decorrer de sua história de vida.

9)  perceber que a palavra “cura” não tem nenhum significado no caso da droga, já que será um espírito ou entidade que rondará seu psiquismo até o final de sua vida, assim sendo, o projeto para a melhora passa por a cada dia sabotar a primazia e hegemonia do vício.

10) sendo novamente enfático, a compulsão é quase que incurável, desse modo o próprio indivíduo deverá fazer a transposição da mesma para atos e comportamentos que o beneficiem, e contar com a ajuda de si mesmo e profissional de que conseguirá tal empreitada.

11) quando sair de uma internação ou estiver “limpo”, amplificar ao máximo a sensação de bem estar que a ausência da droga fornece e perceber como é valioso tal momento. O fato é que se a droga era uma religião, tem agora de cultivar essa devoção no sentido contrário, exaltando diariamente sua capacidade de recuperação e mudança.

12) este talvez seja o princípio mais simples e o mais importante, saber que sozinho jamais conseguirá superar tal dificuldade, pois a droga é como a imagem de um lutador profissional contra um amador, assim sendo necessita-se de ajuda ou mais pessoas para lutar contra tão forte oponente, enfim, o orgulho ou arrogância contra um adversário com o dobro da capacidade só levará o indivíduo à derrota.

13)  perceber como a mentira foi sempre à substância mais aderente na problemática da droga, e que deve lutar diariamente para não se utilizar a mesma seja em qualquer área, pois assim como algumas drogas levam a outras, a mentira certamente pavimenta sempre uma estrada para a recaída.

14) novamente falando em ansiedade perceber as seqüelas da mesma em atitudes ou comportamentos diários, e ter consciência de que quanto mais tentar uma hegemonia ou imposição de seus conceitos ou idéias, mais poderá voltar ao estado de outrora, pois outro conceito da droga é a insistência de um passado comportamental do ponto de vista psicológico.

Texto totalmente produzido pela experiência clínica do autor.
Psicólogo antonio carlos alves  tels: 26921958 /93883296

Saiba a diferença entre pedofilia, violência, abuso e exploração sexual

A pedofilia (também chamada de paedophilia erotica ou pedosexualidade) é a perversão sexual caracterizada pela atração sexual de um indivíduo adulto ou adolescente por crianças pré-púberes (ou seja, antes da idade em que a criança entra na puberdade) ou para crianças em puberdade precoce.  E esta atração pode vir de pais, padrastos, tios e avos que praticam abuso sexual contra crianças e até mesmo de padres nas igrejas ou pastores protestantes.

O termo pedofilia em sua origem grega significa “amar ou gostar de crianças”, sem nenhum significado patológico. De acordo com estudiosos, o termo pedófilo surge como adjetivo no final do século 19, em referência à atração de adultos por crianças ou à prática efetiva de sexo com meninos ou meninas.

Atualmente, o termo é usado de forma corrente para qualquer referência a ato sexual com crianças e adolescentes, desde a fantasia e o desejo enrustidos até a exploração comercial, passando pela pornografia infantil e a realização de programas com crianças e adolescentes. O assédio, a pornografia, o abuso, o programa e a exploração comercial estão tipificados na legislação penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), conforme texto de Gilberto Costa/Agência Brasil:

O uso comum, no entanto, confunde crime com doença.
Não se pode, por exemplo, fazer uma lei contra a cleptomania (o impulso doentio de roubar), mas a lei prevê punições para roubos e furtos. Da mesma forma, não é possível punir a pedofilia (o desejo), porém a lei estabelece pena para a prática de violência sexual, explica o diretor-presidente da SaferNet Brasil (organização não governamental que desenvolve pesquisas e ações de combate à pornografia infantil na internet), Thiago Tavares.

A coordenadora do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, Leila Paiva, destaca que a pedofilia deve ser vista como uma doença, um problema na área de saúde. “Não significa que o pedófilo é criminoso.”

“Confunde-se muito o crime de abuso sexual com a pedofilia. A pedofilia é um diagnóstico clínico, não é um diagnóstico de atos de crimes. O sujeito pode ser um pedófilo e nunca chegar a encostar a mão em uma criança”, detalha a psicóloga Karen Michel Esber.

Ex-coordenadora do Programa de Atendimento ao Autor de Violência à Sexualidade de Goiânia, a psicóloga chama a atenção para o risco de confusão no senso comum. “Da mesma forma que é possível que um pedófilo não pratique qualquer abuso sexual, os que efetivamente cometeram abuso sexual podem não se enquadrar no diagnóstico da pedofilia.”

Para Maria Luiza Moura Oliveira, psicóloga social do mesmo programa, há uma “pedofilização” dos abusos cometidos contra menores. “O abusador sexual não é necessariamente pedófilo. A doença não traduz toda a relação de violação de direitos contra as crianças. A pedofilia é um pedaço da história. Acontece independentemente de ter pedofilia ou não.”

A historiadora e socióloga Adriana Miranda, que participou por mais de dois anos de um projeto de pesquisa e extensão da Universidade Federal de Roraima sobre violência sexual contra crianças e adolescentes, lembra que a pessoa que se diz pedófila em julgamento pode fazer isso como estratégia de defesa. “Isso, no entanto, não impede que a pessoa tenha que ser punida.”

O secretário executivo do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Benedito Rodrigues dos Santos, também tem essa preocupação. “Há uma tendência em transformar todos os casos de pedofilia em doença mental. Eu quero alertar para o perigo disso. Muitos são conscientes e muitos têm problema. É preciso distinguir uma coisa da outra na hora de estabelecer a responsabilização.”

Para a médica psiquiatra Lia Rodrigues Lopes, do Hospital Universitário de Brasília, mesmo que a pedofilia seja considerada doença, há entendimento de que o problema não impede que “a pessoa tenha discernimento quanto ao certo e ao errado e que, portanto, possa tomar medidas para prevenir esse comportamento”.

Entenda a diferença:

Pedofilia: Consta na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) e diz respeito aos transtornos de personalidade causados pela preferência sexual por crianças e adolescentes. O pedófilo não necessariamente pratica o ato de abusar sexualmente de meninos ou meninas. O Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não preveem redução de pena ou da gravidade do delito se for comprovado que o abusador é pedófilo.

Violência Sexual: A violência sexual praticada contra crianças e adolescentes é uma violação dos direitos sexuais porque abusa e/ou explora do corpo e da sexualidade de garotas e garotos. Ela pode ocorrer de duas formas: abuso sexual e exploração sexual (turismo sexual, pornografia, tráfico e prostituição).

Abuso sexual: Nem todo pedófilo é abusador, nem todo abusador é pedófilo. Abusador é quem comete a violência sexual, independentemente de qualquer transtorno de personalidade, se aproveitando da relação familiar (pais, padrastos, primos, etc.), de proximidade social (vizinhos, professores, religiosos etc.), ou da vantagem etária e econômica.

Exploração sexual: É a forma de crime sexual contra crianças e adolescentes conseguido por meio de pagamento ou troca. A exploração sexual pode envolver, além do próprio agressor, o aliciador, intermediário que se beneficia comercialmente do abuso. A exploração sexual pode acontecer de quatro formas: em redes de prostituição, de tráfico de pessoas, pornografia e turismo sexual.

Fonte: Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes

Agressividade infantil

Muitas vezes, a criança é vista como agressiva, quando na verdade ela está simplesmente manifestando raiva. Ela pode dar um soco no colega, no irmão ou chutar objetos como pura expressão da emoção da raiva.

Segundo Violet Oaklander os atos agressivos não são a verdadeira expressão da raiva, mas desvios dos sentimentos reais. Atos agressivos, geralmente chamados de anti-sociais, podem incluir comportamentos destrutivos, tais como, agressão física, destruição de objetos, pequenos furtos, etc. a criança que pratica esses atos possui geralmente sentimentos profundos de ira, insegurança e –ou ansiedade, sentimentos de mágoa e uma opinião muito pobre a respeito de se mesma.

Pode ser ainda incapaz de expressar seus sentimentos e se o fizer, poderá perder a força que reúne para se envolver nos comportamentos agressivos ou violentos. Esses comportamentos no sentir e no imaginário da criança são necessários, como forma de sobrevivência física e emocional.

Pais, cuidadores e educadores muitas vezes supõem que um distúrbio na criança provém de um motivo interno específico – que algo definido dentro dela, faz com que aja dessa forma, mas há o contrário, o meio ambiente pode perturbar a criança, provocando dificuldades, que serão internalizadas. Falta na criança a habilidade, adquirida com a maturidade para lidar com um ambiente que a provoca, mobilizando raiva ou medo.

A criança não sabe como lidar com essa carga de sentimentos que são gerados dentro dela, muitas vezes fruto de um ambiente hostil. Portanto ela não se torna agressiva de repente, esse processo é gradual.

Num primeiro momento a criança expressa suas necessidades de forma mais sutil, quando os adultos não prestam atenção, ela então exagera seus comportamentos. Esses comportamentos percebidos pelos adultos como anti-sociais, representam na verdade uma tentativa desesperada de restabelecer uma ligação social. É como se ela estivesse fazendo a única coisa que sabe, no sentido de prosseguir na batalha de viver neste mundo.

As crianças que são agressivas e põem “suas coisas para fora”, são mais fáceis de trabalhar do eu àquelas inibidas e retraídas. Isso porque na postura agressiva e violenta a criança sinaliza pelo comportamental que algo não vai bem dentro de si, e alerta para que os familiares prestem atenção e, portanto cuidem dela, buscando os mecanismos e recursos adequados para diminuir os sintomas, e é nesse momento que todo grupo familiar primário pode ser convidado para reavaliar a constelação familiar, ou seja, a dinâmica de comportamento de todos no ambiente doméstico e como tal ou qual conduta reflete na resposta dada pela criança de modo mais calmo ou mais agressivo.

Essa maturação na família facilita a reorganização de comportamento infantil, podendo melhorar a qualidade de vida da criança e de todos que por ela são refletidos através de um comportamento inicialmente inadequado pela própria pressão muitas vezes do ambiente ao qual essa criança esta exposta.

O objetivo do comportamento agressivo infantil é chamar atenção dos pais ou responsáveis para reavaliar suas posturas diante da família e ajustar as próprias condutas individuais, melhorando o caminho da afetividade, que é o melhor antídoto contra qualquer inadequação comportamental, porque a energia amorosa é a maior energia de cura.

Especialista em Psicologia Clínica – CRP13.2262; Especialista em Infância e Adolescência; Psicoterapeuta em Análise Bioenergética; Psicóloga Transpessoal; Formação Internacional em DMP – Deep Memory Process.

Fonte:
Iara da Silva Machado
www.crianca.pb.gov.br

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Drogas, violência e juventude

       Desconstruindo estereótipos e reconhecendo demandas

      Precisamos repensar, com todo cuidado, a relação entre drogas, violência e juventude considerando a complexidade que se coloca nesta questão.Apenas drogas e violência já é um tema carregado de representações sociais que necessitam ser desconstruídas. Vocês sabiam que as pesquisas em psicologia social apontam que o estereótipo do antigo binômio pobreza = violência foi substituido no imaginário social pelo estereótipo drogas = violência ?
      
      Ainda temos um terceiro desafio que é a automática associação entre drogas e juventude e também entre violência e juventude. Com este discurso e por esta lógica simplista acabamos colocando uma marca negativa na juventude brasileira: basta ser jovem para ser ou drogado, ou violento ou ambos drogado e violento.
  
      Identificamos como especialmente tendenciosa e falsa a pergunta: - os jovens estão tão violentos porque se drogam? Ou (pior ainda) – se drogam porque querem ser violentos?          

      Neste momento histórico em que o Governo Federal dirige-se aos jovens, através da SENAD neste Mundo Jovem, a primeira palavra que dirigimos aos jovens brasileiros leitores desta página é de que acreditamos em sua força transformadora, em sua luta por um mundo melhor e pela construção de um Brasil cada vez mais brasileiro. Saibam que enquanto nos países do primeiro mundo a juventude é uma categoria dentre as minorias, no ano de 2007, no Brasil, a população de jovens será a mais numerosa e isto representa uma imensa força: a força jovem que representa o nosso grande capital e que, portanto, deve constituir o grande investimento de nossas politicas públicas. E é neste espírito que me dirijo em primeiro lugar aos jovens, mas também aos profissionais e, em especial, aos gestores das políticas publicas com este convite e apelo: vamos mudar esta mentalidade que associa juventude a drogas e violência e reconheçamos nos jovens o que este País tem de melhor!

      Neste contexto, sim, pensemos , e muito seriamente: Como ajudá-los a enfrentar todos os apelos e mesmo a imensa pressão existente na nossa sociedade para o consumo de drogas? Esta é a verdadeira questão: Como diminuir os apelos da
cultura aditiva e da cultura de violência que caracterizam a sociedade atual?  Refiro-me, aqui, às tantas violências as quais os jovens estão expostos no seu percurso cotidiano: a violência da mídia que transmite informações enganosas e trazidas pelos seus próprios ídolos; a violência da falta de controle na compra das drogas lícitas; a violência do mercado de distribuição das drogas ilícitas que os recruta sutil e irremediavelmente para o mundo do tráfico- onde desnecessário dizer- a violência é a lógica e a cultura vigente.

      Penso que a primeira violência a ser combatida é a do discurso da juventude violenta e drogada que gera distanciamento dos jovens, impedindo que os conheçamos em sua natureza sonhadora  e que os comprendamos em suas expressões por mudanças.

      Em minha experiência como terapeuta de adolescentes e como pesquisadora na área, estou convencida que o jovem ao buscar as drogas tem uma demanda e esta não é de destruição nem de si mesmo e nem do outro ou da sociedade. Não acredito que a drogadição, mesmo em seu grau mais comprometido, seja um comportamento destrutivo. Reconheço no ato de drogar-se o valor de um ato que tem um sentido o qual precisa ser reconhecido e conhecido: em primeiro lugar pelo próprio usuário (seja ele jovem ou adulto), mas também por aqueles que o cercam. Quando nos debruçamos sob este prisma da compreensão e do valor deste sintoma como comunicação - geralmente bloqueada por outras vias - já fizemos a mudança necessária e passamos a estar de outra forma com o jovem: como um sujeito que nos demanda, que nos pede que nos fala de si e de nossa relação com ele.

      Compreender e atuar nesta área nos exige, antes de tudo, um crédito nos potenciais da juventude e um compromisso com eles na busca dos seus sonhos. Mas quais são os sonhos da juventude brasileira?

      Pensemos: será que esta anestesia com as drogas, em vez de uma busca pela violência ou de uma alienação face às dificuldades que enfrentam, não seria um grito de alerta para que os adultos reparem melhor nas suas necessidades e anseios? Pensemos diferente: consumir drogas não é uma doença; é, antes, um sintoma. Um sintoma é um sinal; é uma comunicação; seria como a febre que nos indica que algo não está bem. Neste sentido não é uma doença. Não é um problema mas é uma equivocada busca de solução . Neste sentido, buscar drogas seria uma espécie de febre da alma ou do coração ou da emoção.

      Se pensamos de forma diferente, percebemos diferente e podemos, então, agir de forma diferente: visualizamos, assim, uma postura mais clínica e compreensiva e a pergunta já é outra: - Do que sofrem os jovens que buscam as drogas? O que reivindicam? Quais denúncias expressam através deste ato? Por quais mudanças estão lutando? Para desafiar os próprios jovens leitores do Mundo Jovem, lanço a minha hipótese: os jovens denunciam a violência vivida em seu dia que pode ser em diferentes níveis e de naturezas diversas. Finalizo desafiando os leitores a prosseguirem nesta reflexão levantando suas próprias hipóteses sobre quais seriam as violências vividas que justificam a demandas dos jovens pelas drogas e sua relação com as tantas violências das quais são alvo, mas não são apenas vítimas pois que estão reagindo.



      Maria Fátima Olivier Sudbrack
     
Doutora em Psicologia ( Université de ParisXIII) e Pós-doutora em Psicossociologia ( Université de Paris VII)
      Professora Titular do Departamento de Psicologia Clinica/Instituto de Psicologia /Universidade de Brasília
      Pesquisadora do CNPq 
      Coordenadora do PRODEQUI- Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas/PCL/IP/UnB
      Psicóloga clinica, terapeuta de familias e de adolescentes

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/mundojovem/index.php

Violência psicológica cometida por familiares lidera ranking de violações a direitos infanto-juvenis

O Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor), da FIA (Fundação Instituto de Administração) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República apresentam os resultados de pesquisa realizada sobre a aplicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) no livro “Retratos dos direitos da criança e do adolescente no Brasil: pesquisa de narrativas sobre a aplicação do ECA”. A pesquisa foi realizada pela equipe técnica do Ceats com apoio da Secretaria de Direitos Humanos e a cessão do acervo do concurso Causos do ECA* do portal Pró-Menino pela Fundação Telefônica.

Para a pesquisa foi feita a análise das narrativas reais inscritas nas edições de 2005 a 2009 do concurso “Causos do ECA”. O livro representa um retrato da realidade na perspectiva e no âmbito da visão de mundo dos próprios atores, no momento em que eles sentiram que poderiam ser os autores espontâneos das narrativas analisadas. Para a professora doutora Rosa Maria Fischer, coordenadora do Ceats, esta pesquisa retrata a importância do Estatuto para a promoção dos direitos da criança e do adolescente. “Este estudo ilumina os esforços dirigidos pelo Estado e pela sociedade para a superação de desafios presentes no âmbito da garantia dos direitos desses públicos no país de modo a tornar efetivo o Estatuto da Criança e do Adolescente para todas as camadas sociais”, comenta.

A análise das 1.276 histórias que foram classificadas como violação de direitos revelou que a violência psicológica cometida por familiares ou responsáveis foi o tipo de violação de direitos assegurados pelo ECA que apresentou mais elevada frequência nessas narrativas: 36%. Os outros quatro tipos de violação de direitos mais frequentes foram: privação do direito de alimentação (34,3%), abandono (34,2%), violência física cometida por familiares/responsáveis (25,8%) e violação ao direito de higiene (25,0%).Seguem abaixo as 20 violações de direitos da criança e do adolescente mais frequentes:

Violações
-Violência psicológica cometida por familiares/responsáveis – 36,0%
-Violação do direito à alimentação – 34,3%
-Abandono – 34,2%
-Violência física cometida por familiares/responsáveis – 25,8%
-Violação do direito à higiene – 25,0%
-Ambiente familiar violento – 19,3%
-Indivíduo fora da escola por motivos diversos – 18,1%
-Pais/responsáveis que não providenciam encaminhamento para atendimento médico ou psicológico – 15,1%
-Trabalho infantil -11,9 %
-Violência ou abuso sexual cometido por familiares/responsáveis – 10,7%
-Condições inadequadas para o trabalho do adolescente – 8,8%
-Baixa frequência às aulas – 7,7%
-Violência psicológica cometida por não familiares/responsáveis – 7,3%
-Violência ou abuso sexual cometido por não familiares/ responsáveis – 6,7%
-Violência cometida por pares – 6,2%
-Ausência de registro de nascimento ou outros documentos – 6,0%
-Impedimentos ou constrangimentos para frequentar espaços e localidades- 5,8%
-Cárcere privado – 5,3%
-Adoção ou guarda irregular ou ilegal – 4,8%
-Trabalho escravo ou forçado – 4,7%

No que tange à violação de direitos, o estudo revelou, ainda:
O abuso sexual cometido por familiares/responsáveis e por não familiares é maior no caso de crianças e adolescentes do sexo feminino com, respectivamente, 19,1% e 11,1%. Os meninos, por sua vez, são mais frequentemente violentados no que se refere aos direitos de alimentação (33,1%), abandono (35,6%) e indivíduo fora da escola (21%).
A violação dos direitos de acesso à cultura, ao esporte e ao lazer é citada com menor frequência.

Tipos agrupados das violações mais frequentes nos causos

-Direito ao respeito e à dignidade 64,3
-Direito à convivência familiar e comunitária 51,6
-Direito à vida e à saúde 47,6
-Direito à educação 31,8
-Direito à profissionalização e à proteção ao trabalho 19,4
-Direito à liberdade 13,0
-Direito à cultura, ao lazer e ao esporte 5,0

A pesquisa identificou ainda que crianças e adolescentes doentes ou com deficiência têm chances muito maiores de terem os direitos à vida e à saúde violados; que o direito ao respeito e à dignidade é violado quando os personagens das histórias estão em situação de exploração sexual, ou quando cometeram atos infracionais; e que o direito à educação é violado com maior frequência entre jovens que são autores de atos infracionais, crianças e jovens com deficiência e usuários de drogas e/ou álcool.

Os cruzamentos de dados apontam que problemas, carências e dificuldades familiares estão associados à vulnerabilidade da criança e do adolescente e podem aumentar a probabilidade de ocorrência de violações de direitos.

Outra questão de interesse diz respeito à abrangência da solução proposta nos relatos. Algumas geram mudanças que afetam vários contextos e pessoas, para além daqueles que protagonizam o causo. São exemplos disso: a fundação de uma associação que se torna geradora de benefícios para diversas famílias; a implementação de serviços como a instalação de UTIs em hospitais; a construção de estruturas adaptadas a deficientes em escolas e outras semelhantes.

A partir de casos individuais, pode ocorrer uma ação política ou social cuja abrangência permite ampliar a atenção preventiva, que é a mais eficaz no sentido de evitar outras violações e legitimar a aplicação do ECA. São ações que visam interferir nos fatores de vulnerabilidade que propiciam ou intensificam as situações de violação de direitos, aperfeiçoando o atendimento qualificado e assegurando a eficácia da proteção integral.

Já como atores e órgãos de Sistema de Garantiasdos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA), o estudo revelou que, nos causos classificados como de violação de direitos, o Conselho Tutelar, Sistema de Justiça e Escola/Secretaria de Educação são os agentes frequentemente citados.

Identificou-se ainda no levantamento que o Conselho Tutelar se destaca na atuação contra todos os tipos de violação. “Isso ocorre devido à proximidade que o Conselho mantém com a população, em virtude de sua própria função, da natureza de seus serviços e de sua responsabilidade por atendimentos imediatos e encaminhamentos, o que o torna mais visível e conhecido do público que necessita de atendimento”, afirma Rosa Maria.

Na maioria das 595 narrativas classificadas como histórias de vida (35,1% dos causos dessa categoria) os direitos dos protagonistas foram assegurados pela própria família e através de ONGs/projetos sociais (28,7%). Figuram também, com um pouco menos de destaque, as escolas (23,9%), as unidades de medidas socioeducativas (18,6%) e o Conselho Tutelar (17,5%) como instâncias que propiciaram essa vigência do Estatuto. É interessante notar que a família aparece nos causos de violação de direitos como o local onde essas experiências são vividas pelas crianças e adolescentes que protagonizam a história. No entanto, nos causos de história de vida, a família é o principal veículo da promoção de direitos.

Evento de lançamento da publicação foi transmitido ao vivo e o livro “Retratos dos direitos da criança e do adolescente no Brasil”.

 Fonte: Portal Pró-Menino
www.fundacaofia.com.br/ceats/pesquisa_causos.pdf

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Bem vindo!

Sejam bem vindos ao meu blog!

Você encontrará aqui, assuntos variados sobre violação dos direitos de crianças e adolescentes, entre outros.