Não
poderia existir melhor nome para definir a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Nelson
Mandela, no bairro do Limão, Zona Norte de São Paulo. Um exemplo de educação em cultura de paz,
a escola leva consigo os princípios do líder africano, conhecido pela luta
contra o racismo e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993.
Sob
a direção de Cibele Racy, o colégio já recebeu cinco prêmios, frutos de um
projeto sobre racismo iniciado em 2011. A iniciativa, que mudou a cara da
unidade, foi uma resposta criativa à alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tornando obrigatório o ensino da
História e da Cultura Afro-Brasileira na rede escolar.
Mas
a forma como a EMEI envolve pais e alunos vai muito além de regras e leis.
Basta passar do portão da escola para sentir que há algo especial.
Sala
de aula no meio do jardim, redes entre árvores, parquinho na terra, quadra ao
ar livre, teatro de arena, cozinha experimental, horta. Criada em 1950, a
escola segue o conceito de parque infantil, concebido
por Mário de Andrade quando chefiava o Departamento de Cultura da cidade.
No
interior da Nelson Mandela, o visitante se depara com quatro bonecos de pano em
tamanho real, a família Abayomi. Ela começou a se formar em 2011, no início do
projeto, quando Cibele anunciou entre as turmas a chegada de um príncipe.
“Foram
três meses de expectativa. Mas quando Azizi chegou, as crianças levaram um
susto, porque ele era um boneco negro”, contou a diretora. A reação dos alunos
foi o ponto de partida para trabalhar a questão do racismo e promover a cultura
de paz.
Daí
em diante, a história envolvendo Azizi só cresceu. Ele se casou com Sofia, uma
moça branca, e eles tiveram filhos, oportunidade para abordar também a questão
de gênero e orientação sexual.
As
famílias dos alunos passaram a participar cada vez mais do projeto, e o
ambiente da escola mudou. As brigas entre pais, professores e alunos
diminuíram, dando lugar à colaboração.
Em
2012, seguindo o projeto anual sobre a África, o colégio recebeu a visita do
escritor nigeriano Sunday Ikechukwu Nkeechi, mais
conhecido como Sunny. “Em
vez da festa junina, fizemos uma festa brasileira. Os pais se sentiram
representados. Grande parte da nossa comunidade escolar é negra”, disse a
diretora.
Resistência
O caminho até uma nova escola não foi
fácil. Em outubro de 2011, quando as primeiras iniciativas começaram a se
espalhar pelo bairro, frases racistas
foram pichadas nos muros da unidade de ensino . Mas a tentativa
de intimidação acabou dando ainda mais visibilidade à EMEI e, duas semanas
depois, um mutirão de crianças cobriu as mensagens de ódio com pinturas de paz.
Com a morte de Nelson Mandela, em
2013, a escola passou a abordar a trajetória do líder. Em junho de 2016, após
anos de mobilização, finalmente conseguiu ser rebatizada com o nome dele, e seu
rosto hoje estampa a entrada principal. Os tempos de Guia Lopes, líder
das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai, ficaram para trás.
Futuro
Os desafios da EMEI Nelson Mandela se
reciclam a cada ano. Em 2017, a unidade decidiu apostar em classes
multisseriadas, ampliando o incentivo à diversidade. “A escola faz
uma seriação por idade, mas como é possível aprender a conviver com o diferente
se a escola faz questão de segmentar?”, questiona a diretora.
Buscando a inserção de todos, os pais
são convidados a participar da formação dos professores, compartilhando
conhecimentos. “Acredito que a escola deve ser aberta, um ponto de
cultura e formação geral. Todo mundo entra e participa.”
Fonte: Portal Pró-Menino
Nenhum comentário:
Postar um comentário