Por dia, 23 crianças ou jovens, entre 10 e 19 anos, se tornam mães na
Paraíba. Só no primeiro semestre deste ano, 4.259 meninas deram à luz
no Estado. São menores e jovens que, antes mesmo de conquistarem a
independência, assumiram a responsabilidade de criar outra criança.
Em
um mês, também estará nessa estatística, a estudante Kelly Raiza dos
Santos, 17 anos. Ela é de João Pessoa, engravidou pela segunda vez e
carrega no ventre a pequenina Raika Eloá dos Santos. “Fiquei grávida
logo após minha primeira menstruação, aos 13 anos, de um garoto de 16
anos. Fomos morar juntos, mas ele me deixou recentemente porque arranjou
outra mulher”, revelou.
De acordo com a Secretaria Estadual de
Saúde da Paraíba (SES), os índices têm caído se comparado aos anos
anteriores. No primeiro semestre deste ano, 4.259 meninas, de 10 a 19
anos, foram internadas para dar à luz na Paraíba. São 23,4 garotas em
trabalho de parto por dia. Já os últimos dados do Ministério da Saúde
(MS), divulgados ano passado, mostram que em 2009, a Paraíba registrou
10.545 partos para a faixa etária, indicando que, por dia, 28,89
adolescentes deram à luz na Paraíba.
O MS revelou que, nos
últimos 10 anos, o Estado reduziu em 29,53% o número de partos entre
mulheres de 10 a 19 anos. Apesar da diminuição dessa estatística, os
números continuam alarmantes.
A gravidez em adolescentes é
considerada de alto risco. É o que alerta o ginecologista e obstetra
Edvaldo do Egito, um dos mais antigos médicos do ICV. “A Paraíba ainda
possui um número altíssimo de adolescentes grávidas. Em meu consultório,
de 10 pacientes grávidas que aparecem, três são adolescentes”,
constatou.
Segundo Edvaldo, as estruturas do corpo de uma
adolescente ainda estão em desenvolvimento, como a maturidade dos órgãos
sexuais e a região óssea da pélvis, onde o feto vai se alojar. “Aos 13
anos o corpo ainda está em fase de transformações, então, as
adolescentes correm alto risco na gravidez, não só para as gestantes,
mas para o bebê. Isso pode ocasionar partos pré-maturos, hipertensão e
deficiência de ferro, ocasionado até anemia”, avaliou.
Segundo o
psicólogo João Batista, os danos psicossomáticos também não seriam
menores. “Sem uma estrutura familiar constituída e adequada, sem o apoio
tão necessário dos pais, sem a consciência do que representa uma
gravidez e o consequente cuidar de um filho, uma gravidez, de certo,
traria efeitos indesejados à jovem e ao bebê”, alertou.
Realidade
“Se
eu soubesse que as mudanças na minha vida fossem ocorrer da forma como
aconteceram, não teria tido filho tão cedo. Mas já que aconteceu, tive
que encarar a realidade. Depois de dois filhos, queria fazer logo a
laqueadura, mas, por ordem médica, não poderei ainda”, ressaltou Kelly
Raiza. Ela explicou que engravidar lhe fez engordar, as pernas incharam,
teve dores nas costas, manchas no corpo, se sentiu cansada em alguns
momentos, e o pior para uma adolescente: não pode mais ir às festas.
“Sei que perdi ou retardei muitas oportunidades. Já fui desclassificada
em duas seleções de emprego porque estava grávida”, lamentou.
Apoio do pai e da família é fundamental
Para
Kelly Raíza, a pior experiência durante a gravidez foi a falta do
companheiro. “Uma das coisas que mais me doeu foi a falta de atenção e
da presença do pai de minha criança. Isso mexeu demais com meu estado
emocional, já que ficamos muito sensíveis na gravidez. Passava por
problemas e não via um pulso forte ao meu lado para me amparar física e
emocionalmente. Ninguém sabe a falta que esse tipo de presença e carinho
fazem”, contou emocionada, Kelly Raíza. A partir desta reportagem, a
adolescente recebeu encaminhamento para sua primeira consulta
psicológica e de planejamento familiar.
A mãe solteira, que mora
com a sogra revelou se sentir vitoriosa porque está conseguindo
conciliar a gravidez com os estudos. Ela terminará o Ensino Médio neste
ano e pretende fazer Vestibular para Arquivologia. “Não chego a me
arrepender, pois não teria coragem de abortar. Mas apesar de tudo, o que
me conforta é quando olho para aquela coisinha pequena, que eu sei que
veio de mim, e vejo que tudo que já passei de ruim acaba. Basta ouvir as
gargalhadas, aqueles olhinhos brilhando e me chamando de mamãe que fico
cheia de felicidade”, revelou sorridente enquanto acariciava o
barrigão.
Capital tem mais mães precoces
As
adolescentes grávidas são encaminhadas para unidades que têm estrutura
para esses casos. Em João Pessoa, estão o Hospital Universitário Lauro
Wanderley (HULW); o Instituto Cândida Vargas (ICV) e a Maternidade do
Hospital Frei Damião. Já em Campina Grande, há o Hospital Universitário
Alcides Carneiro.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), março registrou 921 meninas internadas para dar à luz, o maior índice do primeiro semestre para a faixa etária de 10 a 19 anos. Já maio teve menos internações: 552. As cinco cidades do Estado que mais registraram adolescentes que deram à luz foram, em ordem decrescente, João Pessoa (1.702), Campina Grande (946), Santa Rita (392), Patos (301) e Cajazeiras (143).
Além disso, 3.343 bebês nasceram de mães entre
10 e 17 anos, do início deste ano até a semana passada, 28 de agosto, na
Paraíba. Os dados revelam que, das mães adolescentes, a maioria no
Estado tem 17 anos. Segundo os dados da SES, dos bebês nascidos este
ano, 1.314 têm mães nessa faixa etária. A estatística também mostra que,
entre as adolescentes na maioria das cidades da Paraíba, de acordo com o
aumento da idade da mãe, aumenta o número de meninas que deram à luz.
Dos
3.343 nascidos de mães entre 10 e 17 anos, do início do ano até a
semana passada, em 28 de agosto, João Pessoa lidera as estatísticas, com
585 crianças. Em seguida, está Campina Grande, com 284 nascimentos,
Santa Rita, com 142, Bayeux, com 96 e Patos, com 70. Além destes, Sousa
apresentou 64 nascimentos, Sapé, 63, Cabedelo teve 60 e Cajazeiras 59.
A
primeira iniciativa que uma adolescente deve ter ao descobrir que está
grávida é procurar o serviço de saúde para fazer o exame de sangue que
confirma a gravidez, o BHCG. Se for confirmada, inicia-se o exame
pré-natal, que será um acompanhamento onde serão realizados vários
exames, como os de sangue, urina, a testagem que detecta sífilis (VDRL),
ultrasonografia (USG), dentre outros. Além disso, é necessário que a
futura mãe passe por vacinação.
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