domingo, 9 de outubro de 2011

Crimes proibidos por “leis” do tráfico afligem favelas pacificadas do Rio

 

 
Surra, tiro na mão, expulsão da favela ou morte são penas impostas por traficantes a quem rouba ou furta em comunidades não pacificadas do Rio de Janeiro. As chamadas “leis” do tráfico determinam que os problemas sejam resolvidos dentro da própria comunidade sem a intervenção da polícia. Embora a chegada das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) tenha reduzido os homicídios e a presença ostensiva de traficantes, roubos e furtos aumentaram na região das favelas, segundo apontam dados do ISP (Instituto de Segurança Pública).

O levantamento divulgou as primeiras informações sobre os índices de criminalidade nas comunidades com UPPs. Salgueiro, Cidade de Deus, Andaraí, Macacos e Tabajaras apresentaram os índices mais altos de roubo e furto de janeiro a junho deste ano.

A comunidade do Salgueiro, na Tijuca, zona norte do Rio, teve a maior taxa no primeiro semestre: foram 16,8 roubos e furtos por mil habitantes (84 casos ao todo). O índice supera a média de toda capital fluminense (13 registros por mil habitantes) no mesmo período.

O comandante da UPP do Salgueiro, capitão Plínio Cesar Azevedo de Macedo, diz que a maioria dos casos não acontece dentro da comunidade, mas nas redondezas. Ele pondera ainda que o fluxo de pessoas na região é grande. Os índices do ISP consideram a área de ocupação da UPP, que abrange a favela e as ruas de acesso.

- Quem comete os roubos e os furtos não necessariamente vive no Salgueiro. (...) A classe média e a proximidade com o shopping e comércio da Tijuca são fatores que estimulam a ocorrência de crimes.
 
Mas o clima de insegurança também é percebido por moradores do Salgueiro. Um homem que preferiu não se identificar diz que, ao sair de casa, fica mais atento e deixa tudo trancado.
 
- Agora, se não tomar conta, some coisas das casas. Antes só tinha, no máximo, aquele ladrão de roupa no varal. Tem vizinhos que já perderam objetos que estavam perto de janelas.

foto - comerciante do morro do salgueiro - 28.09.2011
Grades

Há mais de 15 anos no morro, o comerciante Joberto de Almeida, de 60 anos, afirma que o dia a dia melhorou muito após a chegada da UPP, mas que é preciso adotar cuidados para não ser furtado, como o uso de grades. Ele relembra do "tribunal do tráfico".

- Uns 'ratinhos' andam por aí. Antigamente, eles eram castigados pelos traficantes. Agora, os policiais precisam comprovar a culpa dos suspeitos. Com isso, eles são levados para a delegacia e logo liberados. Vários culpados ficam soltos. Por outro lado, na época do tráfico, muitos inocentes foram condenados só por uma suspeita.

Um suspeito de roubo ou furto só permanece preso se houver flagrante ou quando há um mandado de prisão contra ele.

O cientista político João Trajano, professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), defende que a incidência de roubos e furtos não significa que as UPPs sejam ineficientes, mas revelam que é preciso monitorar os crimes cometidos na região pacificada.

- O aumento de registros não é algo inesperado nem representa ineficiência por parte da polícia. A retirada do tráfico armado é uma mudança significativa nos padrões de sociabilidade e isso impõe adaptações.

Cidade de Deus
Em números absolutos, a Cidade de Deus, na zona oeste, é a comunidade pacificada com mais registros de roubos e furtos: 181 casos. Quando considerada a população da favela, de 45 mil habitantes, a taxa é de quatro crimes por mil habitantes.

Após a chegada da UPP, em fevereiro de 2009, a moradora Angélica Santos, de 27 anos, notou o aumento de furtos e roubos. Mas, apesar disso, comemora a expulsão dos traficantes.

- Antes a bandidagem aplicava o corretivo. Agora, conheço pessoas que são assaltadas em casa, mesmo morando na rua atrás da UPP. De qualquer maneira, ainda é melhor conviver com o furto do que com armas e drogas a cada esquina.

Para o comandante da UPP dessa favela, major Felipe Romeu, a quantidade de roubos e furtos não tem relação com a saída do tráfico. Ele diz que a maioria desses crimes é cometida por usuários de crack que praticam pequenos delitos para sustentar o vício. 

- Eles furtam bicicleta, som antigo de creche, computador de escola e até merenda. Não são batedores de carteira. Crack faz a pessoa cometer crime por oportunidade. Além disso, na CDD ainda tem locais de miséria, aí a pessoa irá cometer o crime, com ou sem a presença do tráfico.



Fonte: R7

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