A denúncia de racismo feita pelo aluno nigeriano Nuhu Ayuba, de 21 anos,
contra o professor José Cloves Verde Saraiva, 57, do curso de Engenharia Química
da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), repercutiu nacionalmente ontem (4) à
noite, no Jornal da Globo, e hoje (5) nos portais G1, Folha Online e Estadão
Online. A notícia foi divulgada em primeira mão pelo Jornal Pequeno no último
sábado (2).
Foto: G.
Ferreira
O professor Cloves Saraiva e o
aluno Nuhu Ayuba dão entrevista ao JP
Nuhu Ayuba, estudante do primeiro período do
curso de Engenharia Química, declarou ao JP, na manhã do dia 1º, que já há
algum tempo vinha sendo vítima de racismo por parte do professor Cloves
Saraiva, responsável por ministrar a disciplina de Cálculo Vetorial.
O professor, segundo Nuhu, o teria humilhando
sistematicamente na frente de todos os alunos da turma, com frases do tipo
'Somos de mundos diferentes'; 'Aqui é diferente da África, somos civilizados';
'Com quantas onças você já brigou na África?', entre outras expressões. Em
decorrência desse suposto comportamento racista do professor, colegas de turma
de Nuhu elaboraram um abaixo-assinado, que foi divulgado na internet e já está
com a reitoria da Ufma.
Nuhu Ayuba contou ao JP que está
em São Luís
há três meses. Ele veio para o Brasil por meio do Programa de Estudantes -
Convênio de Graduação (PEC-G), administrado pelo Ministério das Relações
Exteriores, por meio da Divisão de Temas Educacionais, e pelo Ministério da
Educação, em parceria com instituições de Ensino Superior em todo o país.
O nigeriano disse que as humilhações começaram na
segunda semana de curso. 'Nunca discuti ou questionei o professor porque no meu
país aprendi que não devemos desrespeitar ou alterar a voz com os mais velhos.
Por isso, ouvi tudo calado. Ele falou do meu país, da minha cor e por mais que
a maioria tirasse notas baixas, apenas a minha era lida em voz alta', afirmou.
'Quando cheguei à sala, mal sentei e o professor
me perguntou com quantas onças já briguei na África. Disse ainda que no meu
país as pessoas vivem brigando, diferentemente do Brasil. Com o psicológico
abalado, não consegui me concentrar na prova e acabei tirando nota baixa. Já
acionei um advogado e vou processar o professor por sua prática racista. Ele
precisa respeitar as pessoas', afirmou Nuhu ao JP.
'Grande brincadeira' - Também
ouvido pelo JP, o professor Cloves Saraiva, que já ocupa a
função há 33 anos, disse que alguns comentários feitos em sala de aula foram
irrelevantes e todos 'em tom de brincadeira'. O docente disse que jamais
praticaria racismo contra alguém que é negro como ele próprio. 'Sou negão, como
posso atacar meu irmão. Foi tudo uma grande brincadeira. Se ele se sentiu
menosprezado e desrespeitado, peço desculpas e me proponho inclusive a me
retratar publicamente, se necessário', declarou o professor.
O coordenador do PEC-G, Manoel Barros, disse que
a Ufma conta com 22 alunos intercambistas, sendo 12 só da África, provenientes
do convênio brasileiro com 48 países latino-americanos e africanos.
Barros disse que racismo é 'algo lamentável e
hediondo' e disse que também procurou o reitor da universidade para tratar do
caso. Agora, aguardará pelo resultado do processo administrativo que será
aberto para averiguação da situação.
Já a pró-reitora de Recursos Humanos, Maria Elisa
Cantanhede, informou que o reitor da Ufma, Natalino Salgado, não só abriu
processo administrativo disciplinar como também comunicou o fato ao Ministério
Público.
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