sábado, 21 de maio de 2011

Rubem Alves critica sistema engessado de ensino

Rubem Alves está velho - tem 79 anos. É um palhaço. Acha a literatura algo inútil. Diz que a verdadeira razão de viver é aproveitar as coisas inúteis e que o prazer vem devagar. Nesse clima de auto-análise e reflexões sobre as conclusões que chegou ao longo da vida, o escritor, educador, teólogo e psicanalista arrancou risadas da plateia que assistiu de pé à palestra de ontem a noite, na Câmara Municipal de Campo Grande.

O local estava completamente lotado, com pessoas sentadas no chão, outras tantas de pé e nenhuma delas esboçando desconforto – apenas fascinação por aquela personalidade enrugada e de voz enérgica contando experiências e expondo conclusões. “Quem inventou a grade curricular foi um agente carcerário desempregado. Quem inventou 75% de presença obrigatória foram os professores incompetentes que não queriam dar suas aulas ruins para uma sala vazia. Vestibular é uma crueldade com a inteligência”. Podem discordar com mil argumentos, mas Rubem Alves é um dos poucos que têm mérito para falar do sistema educacional no país.
“Eu nunca vi alguém se tornar escritor por saber análise sintática. Uma professora mandava os alunos lerem meus livros e grifar os dígrafos – eu não sei o que é dígrafo. Fui um péssimo aluno, só aprendi a gostar de literatura quando um professor chegou na sala, deu 10 para todo mundo e 100% de presença e disse: 'Agora, eliminadas essas burocracias, vamos aprender literatura'.”. Professores da plateia ficavam ofendidos, indignados. Logo em seguida ficavam silenciosos, contentes por ele, justamente Rubem Alves, estar falando o que está engasgado em suas gargantas.
Da poesia Rubem tem uma análise simples: poesia está entre as palavras. Poesia é música. Não saberemos ler poesia, se nunca ouvimos uma poesia bem declamada, para despertar a vontade pela literatura. Elogiou Manoel de Barros, disse que ele tem um parafuso a menos, citou os ídolos artísticos que tem e analisou: “todos eles não batem muito bem. Para aprendermos algo temos que nos libertar de coisas inúteis. Manoel sabe 'despensar', encontra nas palavras o que ninguém mais vê com facilidade”, enfatiza.
Rubem diz que tem pouco tempo, que hoje seleciona muito bem cada coisa que vai fazer. Compara a vida com o dia de um bando de pássaros. "Ao amanhecer, na juventude, os pássaros saem sem rumo, voando para todos os lados. Quando chega o crepúsculo, todos vão para a mesma direção", conclui.

Fonte: Laís Camargo - In: http://www.correiodoestado.com.br/



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