terça-feira, 14 de junho de 2011

Universidade e polícia - diálogo impossível?

O assassinato de um estudante da Universidade de São Paulo (USP), além de uma enorme tragédia, reacendeu o debate sobre segurança no campus. Infelizmente, a discussão ficou reduzida à presença ou não da polícia.

Fui aluna da USP por 10 anos. Ao longo desse período, pude acompanhar as transformações relativas à segurança na universidade e em que medida elas reverberavam o aumento da criminalidade em São Paulo.
Pouco a pouco, as histórias deixaram de ser exceções para integrar o cotidiano da vida universitária. No entanto, mesmo diante de casos graves como assaltos a mão armada, estupros e sequestros relâmpago, o assunto jamais teve visibilidade ou respostas institucionais apropriadas.

O suposto constrangimento que cerca o tema - alimentado por uma ideia de segurança entendida como repressão e não como direito - está ligado ao fato de que a polícia não era até então autorizada a entrar no campus.

Democracia e liberdade são os dois pilares do discurso que justificativa tal prerrogativa. Mas o que há de democrático na morte de um aluno ? E não seria o medo o oposto da liberdade?
Fingir que a universidade é uma ilha de segurança já se provou, na melhor das hipóteses, uma atitude ingênua. Na pior delas, irresponsável.

Os alunos estão divididos: um plebiscito realizado recentementre na escola de engenharia mostrou que a maioria dos seus alunos é a favor da entrada da polícia. Ao mesmo tempo, diversos grupos têm se manifestado formalmente contra.

A resistência à presença da PM não é infundada. A intervenção desastrosa durante a greve de funcionários em 2009, a pedido da então reitora, mostrou que falta preparo à Polícia Militar para intervir no ambiente universitário. Da mesma forma, a ação recente que reprimiu a manifestação na Avenida Paulista deixou claro como a truculência desmedida ainda faz parte do repertório policial.

Acredito que, assim como qualquer espaço público, a USP precise de uma estratégia de prevenção ao crime e à violência. E como em qualquer estratégia bem-sucedida, essa deve incluir a atividade policial, mas não limitar-se a ela. Nesse sentido, sempre estive disposta a defender a presença da polícia na universidade, desde que ela viesse acompanhada de outras medidas de segurança, sobretudo de prevenção.

No entanto, um episódio recente mostrou como não é facil fazer tal defesa. Na madrugada do dia 9 de junho, policiais militares que fiscalizavam os caixas eletrônicos, no campus da Universidade Federal de São Carlos, abordaram um grupo de alunos que ocupava o restaurante universitário. Como resultado, dois estudantes foram levados para delegacia onde, segundo relatos e o exame de corpo delito, sofreram uma série de agressões físicas e morais, inlcuindo espancamento.

Uma universidade que preze qualidade, autonomia e excelência tem de ter a segurança e, portanto, a liberdade de seus alunos, professores e funcionários como prioridade. Para que a polícia possa fazer parte dessa estratégia, ela precisa se reconhecer e atuar como promotora e não violadora de direitos. Mais do que isso, deve entender, definitivamente, que vivemos em um Estado democrático de direito, onde abusos como esse não têm lugar.


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